Cidade Sorriso
Lembro com saudade da época em que estufava o peito e soltava uma voz forte e meio empostada no microfone da Rádio Cultura para anunciar a hora certa: “Na Cidade Sorriso, são 22 horas.” Apresentava o Grande Jornal Cultura com Souza Miranda, Mauro de Alencar e Ciro Cesar. O meu horário de locução terminava à meia noite, quando deixava a rádio na Rua Barão do Rio Branco e seguia, a pé, pela Riachuelo, em direção ao Juvevê, onde morava. Na falta de ônibus (que parava à meia-noite), podia caminhar pela cidade, sem sustos, sem medo e sem voz. Andava sem preocupação, ouvindo a batida do sapato no calçamento, alguns latidos – e o resto era silêncio. Essa caminhada noturna, para chegar ao Juvevê, se repetiu muitas vezes, quando trabalhava na TV-Paranaense, instalada no último andar do Edifício Tijucas. Deixava o estúdio perto da meia noite e em algumas ocasiõesficava conversando com alguns colegas em qualquer esquina da Rua 15 de Novembro, até mais tarde. Depois, seguia o rumo de casa, a pé. Era assim a Cidade Sorriso, que hoje vive num mar de lágrimas vertidas por pais, irmãos, filhos, netos que choram seus parentes, vítimas da violência numa cidade que perdeu o direito de usar o antigo e simpático slogan. Curitiba, pelo descaso de alguns administradores públicos, está entre as cidades com maior índice de
violência no país. Andar pelas ruas à noite ou parar numa esquina para conversar com um amigo é tão (ou mais) perigoso que subir um morro no Rio de Janeiro.